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Pandemia pode acelerar a inflação japonesa, fazendo o que o BC não conseguiu

O choque do coronavírus está a aumentar a quantidade de dinheiro que flui para a economia do Japão e pode disparar a inflação, conseguindo o que anos de política monetária ultra-aliviadora não conseguiram fazer.

É o que disse nesta terça-feira o antigo economista chefe do banco central, Hideo Hayakawa.

Tudo pra banco

O Banco do Japão tem impresso dinheiro agressivamente durante anos como parte de uma política de alívio quantitativo, esperando estimular o consumo na terceira maior economia do mundo e atingir um objetivo de inflação de 2%.

Mas a maior parte do dinheiro se acumula nas reservas de instituições financeiras em vez de se espalhar pela economia, similarmente ao que ocorre no Brasil. 

As empresas japonesas, avessas ao risco, se mantêm cautelosas quanto ao aumento das despesas.

Contudo, depois da COVID-19, o dinheiro impresso pelo BC japonês está escorrendo para as famílias e empresas, com aumento das despesas governamentais e empréstimos às empresas em dificuldades, disse Hayakawa.

“O dinheiro está afluindo às empresas e às famílias, levando a um aumento das poupanças”, disse Hayakawa. “O consumo poderá aumentar quando a pandemia acalmar, impulsionando o crescimento e a inflação”.

Rola tudo pra década seguinte

Mesmo que esse cenário não seja atingido por anos ainda, as autoridades monetárias não devem assumir que a deflação persistente limitará os rendimentos de títulos, permitindo ao Japão gerir um enorme déficit fiscal a baixo custo para sempre.

“Há uma forte convicção entre os gestores políticos japoneses de que os preços nunca irão subir, e por isso não faz mal continuar a gerir um enorme déficit fiscal”, disse Hayakawa.

“Mas nunca se sabe como a COVID-19 pode afetar os preços”, ponderou.

“O maior receio para o BC é um aumento constante da inflação”, esclareceu, acrescentando que tal aumento forçaria o banco a considerar reduzir os estímulos sem provocar um aumento indesejável nos juros.

Os empréstimos bancários atingiram um topo recorde nos últimos meses, à medida que as empresas acumularam dinheiro para enfrentar o impacto da pandemia.

Os depósitos também subiram para um recorde de 786 trilhões de ienes (7,4 trilhões de dólares) em junho e aumentaram 8,3% em Julho em relação ao ano anterior.

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