A pandemia do coronavírus demonstra porque os bancos centrais devem assumir um papel maior no combate à mudança climática, mesmo que a questão, no início, pareça não estar relacionada à política monetária.
São palavras de Isabel Schnabel, membro do conselho do Banco Central Europeu.
Inicialmente apenas uma crise de saúde, a pandemia desencadeou ondas de choque econômico em todo o mundo, afetando todas as nações e forçando os bancos centrais a fornecer um apoio sem precedentes para sustentar a atividade econômica.
Com a mudança climática representando um risco ainda maior, o BCE deve manter esta questão no topo de sua agenda ao rever sua estrutura política, disse Schnabel em entrevista à imprensa alemã.
Dinheiro verde
“A mudança climática é provavelmente o maior desafio que estamos enfrentando, muito maior do que a pandemia”, disse Schnabel.
“Mesmo que este choque sanitário não tenha qualquer relação com a política monetária, ele tem enormes implicações para a política monetária”, continuou Schnabel.
“O mesmo é verdade para a mudança climática e é por isso que os bancos centrais não podem ignorá-la”, avaliou.
Através de seu braço supervisor, o BCE poderia exigir que os bancos fornecessem uma avaliação de risco climático.
Isso poderia então afetar seu acesso ao financiamento do banco central se esta avaliação tivesse uma implicação direta nas avaliações de garantias.
O banco central também deveria pressionar a União Européia a acrescentar um elemento verde ao seu projeto há muito adiado de criar uma união dos mercados de capitais com foco no financiamento verde.
Para Schnabel, a iniciativa poderia dar ao bloco uma vantagem competitiva.
Isentão
Schnabel, que no passado expressou ceticismo sobre o redirecionamento das compras de títulos do BCE para títulos verdes, acrescentou que sua visão sobre o tema ainda estava “em desenvolvimento”.
“Há a opinião de que devemos nos ater muito à neutralidade do mercado”, disse ela.
“E há a visão alternativa de que os mercados não estão precificando corretamente os riscos climáticos, portanto há uma distorção do mercado e, portanto, a neutralidade do mercado pode não ser de fato a referência correta”.
Já um dos maiores compradores de ativos verdes, o BCE detém cerca de 20% dos títulos verdes que são elegíveis para suas compras, deixando pouca margem para mais compras sob suas regras atuais.